PRIMEIRAS IMPRESSÕES: UDO DIRKSCHNEIDER - Balls to the Wall - Reloaded (2025)
Por Daniel Aghehost
Publicado em 22/04/2025 10:28
Resenhas

UDO DIRKSCHNEIDER Balls to the Wall – Reloaded

(Reigning Phoenix Music)

 

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Confesso que fico reticente demais com relação a releituras. Acredito que alguns clássicos são tão perfeitos que, novas roupagens podem estragar completamente o que está em nosso imaginário. Com este pensamento, me debrucei para ouvir a  celebração de quatro décadas de um dos álbuns mais emblemáticos da história do heavy metal que ganha aqui contornos inesperados e, por vezes, empolgantes, “Balls to the Wall – Reloaded”, novo trabalho do lendário e carismático vocalista alemão  Udo Dirkschneider, que imortalizou sua voz à frente da ACCEPT, apresenta uma releitura completa do disco que marcou gerações desde seu lançamento em 1983. Trata-se de uma homenagem ousada e reverente, que envolve uma série de participações especiais de peso e releituras que oscilam entre a fidelidade respeitosa e o experimentalismo calculado. O resultado é um trabalho que instiga, emociona e, por vezes, desafia o ouvinte a repensar a relação com um clássico.

“Balls to the Wall – Reloaded” não é um simples exercício de nostalgia. Udo se junta a uma formação afiadíssima – com destaque para o baixista Peter Baltes, também integrante da formação original da ACCEPT, e o produtor Stefan Kaufmann – e traz como diferencial um convidado especial para cada uma das faixas. A presença dessas vozes não apenas colore o disco, mas reinterpreta a obra original com camadas de personalidade, técnica e emoção que renovam sua potência.

A jornada começa com a regravação da faixa-título, “Balls to the Wall”, um verdadeiro hino do metal mundial. A versão de 2025 busca amplificar a energia bruta do original com a adição dos vocais de Joakim Brodén (SABATON), cuja voz potente e teatral tenta elevar a intensidade. Embora a intenção seja válida, o encaixe entre as duas vozes nem sempre soa fluido, e a força crua da versão de 83 parece, em alguns momentos, diluída pela grandiosidade vocal de Brodén. No entanto, os riffs continuam demolidores e a pegada da banda permanece firme, demonstrando respeito à essência do clássico.

O segundo tema, “London Leatherboys”, é um dos pontos altos do disco. Com a presença de Biff Byford (SAXON), a canção se reveste de um sabor britânico e o diálogo vocal entre os dois veteranos é dinâmico, cheio de vigor e carisma. A interpretação de Byford empresta à faixa uma leveza grave e melódica que equilibra com perfeição a aspereza de Udo. É uma colaboração que transborda autenticidade, como se ambos tivessem crescido juntos ao redor da mesma fogueira metálica. Esta faixa ficou ainda mais incrível!

Na sequência, “Fight It Back” ganha uma nova face com a entrada agressiva de Mille Petrozza (KREATOR). A adição do thrash metal à composição original resulta numa versão acelerada, cortante e brutal. Petrozza injeta em sua interpretação a urgência que caracteriza sua banda de origem, e Udo, mesmo diante de tal ferocidade, consegue manter sua presença firme. A faixa se torna um duelo de forças e texturas, um embate entre o tradicionalismo e a selvageria moderna do metal extremo.

“Head Over Heels”, um dos momentos mais melódicos do álbum, se transforma em algo quase épico com a adição de Nils Molin (AMARANTHE, DYNAZTY). O vocal mais limpo e lírico de Molin traz à tona nuances até então inexploradas da canção. A harmonia entre as vozes realça a estrutura clássica da música, evidenciando como boas melodias são atemporais. Há ecos do saudoso RONNIE JAMES DIO aqui, tanto na entrega vocal quanto na construção melódica, o que torna essa versão uma das mais sofisticadas do disco.

A participação de Michael Kiske (HELLOWEEN) em “Losing More Than You’ve Ever Had” despertou curiosidade desde o anúncio do projeto. O resultado, porém, divide opiniões. A voz cristalina de Kiske contrasta com a rouquidão visceral de Udo, mas a química entre os dois parece vacilante. O arranjo não aproveita ao máximo o alcance emocional que a faixa poderia oferecer com esses dois intérpretes tão distintos, e a execução parece hesitante em alguns momentos, como se a faixa não soubesse que caminho seguir. Uma pena, pois esperava muito mais da dupla aqui.

“Love Child” surge como uma grata surpresa, revelando uma combinação inesperada: Udo e Ylva Eriksson (BROTHERS OF METAL). A voz poderosa e dramática da cantora cria uma tensão deliciosa com o vocal rasgado de Udo. A canção, já carregada de sensualidade sombria, ganha aqui um novo tempero, quase teatral. É um dos grandes destaques do álbum, não apenas pela entrega vocal, mas também pela releitura dotada de requinte que se permite explorar novas atmosferas sem descaracterizar a essência da composição.

Na mesma linha de surpresa positiva está “Turn Me On”, que traz o canadense Danko Jones como convidado. A faixa, uma das mais diretas e sujas do álbum original, parece ter sido escrita sob medida para a pegada moderna e insolente de Danko. Sua performance vocal carrega um misto de insolência e groove que casa perfeitamente com a irreverência da faixa. Aqui, o álbum acerta precisamente ao fundir gerações e estilos dentro do espectro metálico.

“Losers and Winners”, com participação de Dee Snider (TWISTED SISTER), é puro combustível nostálgico. Os dois vocalistas compartilham uma estética semelhante: são carismáticos, teatrais e donos de vozes inconfundíveis. O diálogo entre eles é energético, quase performático, e a faixa se transforma numa espécie de celebração do espírito rebelde do heavy metal dos anos 80. Snider eleva o tom da faixa sem ofuscar o anfitrião, resultando numa das colaborações mais equilibradas e divertidas do disco.

Em “Guardian of the Night”, Tim “Ripper” Owens mostra por que é um dos vocalistas mais versáteis do metal. Sua potência vocal e alcance impressionam, mas, curiosamente, a faixa não decola tanto quanto poderia. A entrega é técnica, sem dúvida, mas falta um pouco de alma, de tensão dramática. Talvez o arranjo excessivamente polido tenha deixado a música sem o peso emocional que a tornaria memorável.

O encerramento do álbum se dá com “Winter Dreams”, faixa melancólica e atmosférica que, na versão original, já encerrava o disco de forma sensível. Aqui, o dueto entre Udo e sua velha amiga, Doro Pesch é carregado de lirismo, mas talvez a produção excessiva tenha drenado um pouco da emoção crua da primeira versão. Ainda assim, é impossível ignorar a beleza da interação vocal entre dois ícones do metal alemão, encerrando o disco com uma aura de reverência e respeito mútuo.

 

 

VEREDITO

“Balls to the Wall – Reloaded” não pretende suplantar o original, e talvez nem devesse. Trata-se de uma celebração, um tributo com alma, feito por quem esteve na gênese do movimento e quer, quatro décadas depois, reviver a chama com novos tons e texturas. Se algumas faixas brilham com nova luz e outras perdem um pouco do impacto original, o saldo final é positivo.

É uma aula de como revisitar um clássico com ousadia e respeito. Udo Dirkschneider mostra que, mesmo após tantos anos, continua relevante, criativo (afinal, possui uma das carreiras solo mais interessantes do metal) e, sobretudo, apaixonado pelo heavy metal.

Um presente para fãs de ontem e de hoje – e um lembrete poderoso de que certas músicas nunca envelhecem. Ainda bem que me livrei dos preconceitos e pude apreciar esta obra.

 

 

8.2/10

 

(Daniel Aghehost)

 

 

TRACK LIST

1. Balls To The Wall (Joakim Brodén)

2. London Leatherboys (Biff Byford)

3. Fight It Back (Mille Petrozza)

4. Head Over Heels (Nils Molin)

5. Losing More Than You've Ever Had (Michael Kiske)

6. Love Child Ylva Eriksson)

7. Turn Me On (Danko Jones)

8. Losers And Winners (Dee Snider)

9. Guardian Of The Night (Tim "Ripper" Owens)

10. Winter Dreams (Doro Pesch)

 

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