PRIMEIRAS IMPRESSÕES: IN THE WOODS... - OTRA (2025 - Prophecy Productions)
Por Daniel Aghehost
Publicado em 25/04/2025 11:53
Resenhas

IN THE WOODS... Otra

(Prophecy Productions)

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

No mundo em constante evolução do metal progressivo, poucas bandas conseguem se manter tão distintas quanto a IN THE WOODS.... Este grupo norueguês, conhecido por sua ousada fusão de gêneros que vão do black metal ao doom e ao rock progressivo, passou por inúmeras transformações desde sua formação em 1991. O lançamento mais recente da banda, “Otra”, chega como uma exploração intrigante dessas transições, com um foco particular em sua mais recente mudança vocal. Embora seus trabalhos anteriores tenham sido fundamentais na cena do black metal, “Otra” marca uma nova era onde as melodias se tornam a força motriz, e os elementos do black metal muitas vezes ficam em segundo plano. O álbum é uma coleção sutil de profundidade emocional, estruturas progressivas e momentos atmosféricos, proporcionando uma experiência rica e texturizada.

'Otra', com suas sete faixas, traz uma abordagem mais refinada, evoluindo o som iniciado em 'Diversum' de 2022, mas com uma clara maturidade nas composições e na execução. O álbum, tanto tematicamente quanto musicalmente, gira em torno do rio Otra, que atravessa a cidade natal da banda, Kristiansand, na Noruega. A imagem metafórica do rio guia o ouvinte através de paisagens sonoras diversas e tumultuadas, personificando perfeitamente as energias flutuantes do rio. Em um momento, a música é calma e suave, e no próximo, ela explode com uma energia intensa, como um rio encontrando as corredeiras. O conceito temático amarra as canções do álbum, conferindo-lhe uma coesão que talvez estivesse menos evidente em trabalhos anteriores.

A faixa de abertura, "The Things You Shouldn't Know", exemplifica esse equilíbrio entre calma e caos. Começando com um trabalho delicado de guitarra e vocais suaves, a canção rapidamente se transforma em gritos que remetem à sua fase inicial – voltada ao black metal - acompanhados por um riff de tremolo que adiciona intensidade. Essa mistura de momentos serenos e explosões de energia demonstra a habilidade da banda em criar contrastes emocionais, uma característica marcante de seu estilo. A música também apresenta solos de guitarra arrebatadores que a elevam ainda mais, criando uma riqueza sonora que estabelece o tom para o álbum.

Logo em seguida, "The Crimson Crown" traz uma camada de teclados atmosféricos, oferecendo uma atmosfera melancólica, porém majestosa. O verso centrado no baixo de Nils Drivdal dá lugar a um refrão que canaliza a essência de bandas como BORKNAGAR, com vocais limpos e agressivos alternando, adicionando profundidade e textura. É um exemplo fascinante de a banda usa sua sonoridade evoluída para criar momentos que oscilam entre a beleza e a escuridão. A voz de Bernt Fjellestad—que ainda é um ponto de discórdia para alguns fãs—traz uma certa gravidade aqui. Seu vibrato controlado e as nuances harmônicas conferem um toque gótico à faixa, o que funciona de forma harmoniosa com o clima sombrio da música.

"Let Me Sing" dá continuidade aos elementos temáticos de tristeza e melancolia, embora com um tom ligeiramente diferente. Começa de forma inocente, com teclados abafados levando a uma atmosfera mais sombria e sinistra. À medida que a faixa avança, o contraste gritante entre os vocais limpos, quase etéreos, e os vocais agressivos cria uma tensão dinâmica que mantém o ouvinte interessado. Esse jogo de contrastes é algo que a banda refinou ao longo dos anos e é particularmente eficaz aqui. O trabalho de baixo nesta faixa também merece destaque—ele fornece uma presença marcante que ancora as nuances mais sombrias da música, enquanto as guitarras de Kåre André Sletteberg  e Bernt Sørensen se torcem e se desenrolam com precisão.

Uma das faixas de destaque, "The Wandering Deity", encerra o álbum com um senso de fechamento e libertação. A música começa suavemente, com vocais assombrosos e uma instrumentação atmosférica que imita a calma antes da tempestade, mas à medida que a música se desenvolve, ela acaba abraçando o poder cru dos vocais agressivos, oferecendo um clímax que encerra o álbum. A forma como Fjellestad navega entre os vocais limpos e os guturais, especialmente no último refrão, destaca a capacidade da banda de usar seu vocalista como uma ferramenta expressiva chave, levando a canção a um estado hipnótico que fica na mente do ouvinte.

No entanto, nem toda faixa ressoa de forma tão forte. "The Kiss and the Lie" é talvez o elo mais fraco do álbum, com suas transições entre passagens suaves e agressivas soando forçadas e desajeitadas. Embora a música em si continue interessante, a execução das mudanças de tonalidade não tem a fluidez que outras faixas conseguem alcançar. Da mesma forma, "Come Ye Sinners" apresenta uma estrutura envolvente, mas falha ligeiramente na primeira metade do refrão, onde os vocais de Fjellestad soam mais fracos e menos controlados. A música, embora tenha seus momentos, não atinge completamente os altos de algumas das outras composições de “Otra”.

O som geral do álbum soa expansivo e íntimo ao mesmo tempo, nunca se afastando demais do território agressivo, mas optando por uma abordagem mais refinada. A produção, embora suave e polida, retém o suficiente de crueza para lembrar os ouvintes das raízes black metal da banda, embora esses elementos sejam usados de forma mais esparsa do que em trabalhos anteriores. A ausência de blast beats—substituídos por uma bateria mais medida—contribui para o caráter mais contido do álbum (não que isso diminua o excelente trabalho realizado aqui pelo grande Anders Kobro). Os teclados, embora frequentemente abafados na mixagem, fornecem um pano de fundo atmosférico que melhora o clima geral sem sobrecarregar o trabalho das guitarras.

Liricamente, “Otra” mergulha em temas introspectivos e sombrios, explorando questões de questionamento espiritual e reflexão pessoal. A conexão com o rio Otra é tanto metafórica quanto literal, pois o rio serve como símbolo do fluxo da vida e da passagem tumultuosa do tempo. As letras adicionam uma camada extra de profundidade ao álbum, permitindo que os ouvintes se imerjam ainda mais no mundo que a banda está criando. Cada música parece um pequeno capítulo na jornada maior de uma pessoa através da luz e da escuridão.

 

VEREDITO

“Otra” é um testemunho da evolução da IN THE WOODS… como banda. Embora não rivalize com a natureza inovadora de seus trabalhos mais antigos, como “Heart of the Ages”, ele se destaca como um dos seus álbuns pós-reunião mais fortes.

O conceito coeso do rio, combinado com uma sonoridade refinada que incorpora elementos de metal progressivo, black metal e rock gótico, faz de “Otra” uma audição cativante para aqueles que apreciam profundidade e complexidade em sua música.

Os picos do álbum, especialmente faixas como "The Things You Shouldn't Know" e "The Wandering Deity", indicam claramente que a banda encontrou uma nova e potente fórmula que ainda pode excitar sua base de fãs fiel, ao mesmo tempo em que atrai novos ouvintes.

Embora não seja perfeito, o álbum representa um passo significativo na jornada da banda, e os fãs de seus trabalhos mais recentes encontrarão muito para admirar aqui.

Para aqueles dispostos a abraçar a riqueza temática e o peso emocional do álbum, “Otra” oferece uma experiência gratificante que persiste muito depois que a última nota desaparece

 

8.8/10

 

(Daniel Aghehost)

 

 

TRACK LIST

1. The Things You Shouldn't Know

2. A Misrepresentation of I

3. The Crimson Crown

4. The Kiss and the Lie

5. Let Me Sing

6. Come Ye Sinners

7. The Wandering Deity

 

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